segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Carla Visi reaparece com o CD 'Pura claridade', tributo à Clara Nunes




Com passagens pelas bandas Cia. Clic e Cheiro de Amor, nos anos 1990, a baiana Carla Visi põe sua boa e melodiosa voz a serviço de (mais um) tributo à Clara Nunes (1942 – 1983), neste ano que marca as três décadas da morte da Guerreira. ‘Pura Claridade’ (MHP Música/ Sony Music) apresenta repertório composto por regravações de uma faixa de cada álbum lançado por Clara, além dos sambas ‘Mineira’ (João Nogueira/ Paulo César Pinheiro, 1975) e ‘Um ser de luz’ (João Nogueira/ Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro, 1983). Inspiradas em momentos dolorosamente tão distintos, vida e morte da sambista, as composições respectivamente abrem e encerram o CD.

Com arranjos assinados por Izaias Marcelo, Pezinho, Didi Pinheiro, Jota Moraes e Rildo Hora, ‘Pura claridade’ aproxima a música (perene) de Clara Nunes do samba contemporâneo com seus tantãs e repiques, além do banjo e do cavaco se revezando como instrumentos-guias. Não por acaso, as faixas assinadas pelo experiente Rildo Hora são destaques: ‘Mineira’, ‘Canto das três raças’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro, 1976) e ‘Guerreira’ (João Nogueira/ Paulo César Pinheiro, 1978) – como a conterrânea Mariene de Castro, Carla Visi também “ousa” dar voz à assinatura musical de Clara Nunes.

 

Contudo, a produção de Izaias Marcelo visa claramente à sonoridade (ainda) mais palatável e explicita esta opção ao convocar cantores populares da atualidade para dividir algumas faixas com Carla. Se a nova sertaneja Paula Fernandes soa completamente deslocada – e empostada – em ‘Dia de esperança’ (Jorge Smera, 1966), os pagodeiros Pinha, Thiaguinho, Péricles e Xande de Pilares dão conta do recado em ‘Ê baiana’ (Baianinho/ Fabrício da Silva/ Miguel Pancrácio/ Ênio dos Santos Ribeiro, 1971), ‘Tristeza pé no chão’ (Armando Fernandes Mamão, 1973), ‘Canto das três raças’ e ‘Coração leviano’ (Paulinho da Viola, 1977), nesta ordem. Mas Carla se sai tão bem sozinha em faixas como ‘Foi ele’ (Carlos Imperial, 1969), que inevitavelmente a pergunta surge: precisava destas participações? Melhor é o encontro entre Visi e Daniela Mercury. A eterna rainha da Axé Music muda as divisões de ‘Morena de Angola’ (Chico Buarque, 1980), cujo arranjo mistura ijexá e samba reggae.

Quando foge da obviedade de reler clássicos (imbatíveis) de Clara, como ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho, 1974), ‘O mar serenou’ (Candeia, 1975) e ‘Nação’ (João Bosco/ Aldir Blanc/Paulo Emílio, 1982), Carla acerta. Além da já citada ‘Foi ele’, a bela morena recria oportunamente ‘Tributo aos orixás’ (Mauro Duarte/ Noca da Portela/ Rubem Tavares, 1972), cujo tema, a saudação às entidades da Umbanda e do Candomblé, seria recorrente durante a carreira musical da mineira, filha de Ogum com Iansã.

Soteropolitana que se lançou em carreira solo com um interessante tributo à obra de Gilberto Gil, ‘Só chamei porque te amo’ (MZA Music, 2001), Carla Visi volta à cena mostrando que neste populoso país das cantoras, algumas injustamente não alcançam ou mantêm a visibilidade merecida.
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