terça-feira, 11 de junho de 2013

Por Onde Anda Carla Visi

Por WALLACE CARVALHO
 
"Carla afirmou que não se importa com o rótulo de cantora de axé e revelou que sofreu boicote de pessoas que comandam o circuito de festas e micaretas. 'Também sou uma cantora de axé. Me incomoda a pressão oportunista que fizeram com meu nome dentro desse mercado com o objetivo de me tirar do circuito. Amo cantar de tudo e não abro mão dessa liberdade. Usaram isso contra mim. Então, no ambiente axé, sou muito MPB. E no ambiente MPB, sou axé demais', desabafou."

RIO DE JANEIRO - Muito antes de Claudia Leitte entrar para o Babado Novo, Ivete Sangalo dividia as paradas de sucesso com outra musa do axé. Durante a década de 90, a vocalista da Banda Eva tinha uma concorrente de peso: Carla Visi, vocalista da banda Cheiro de Amor. Foi sob o comando de Carla que o grupo viveu seu auge. Somente o álbum “Banda Cheiro de Amor – Ao Vivo” vendeu mais de 1,5 milhão de cópias.

Nascida em uma família musical - ela é filha, neta e bisneta de cantoras -, a baiana se apresentava em bares até que surgiu a oportunidade de substituir Daniela Mercury no grupo Companhia Clic, onde assinou contrato com uma grande gravadora, deixou a Bahia para morar no Rio de Janeiro e em São Paulo. Cinco anos depois, a banda chegou ao fim. "Alguns parceiros começaram a sair do grupo. Primeiro foi Jonga, um dos criadores da Banda Eva e diretor também do bloco. E depois que a gravadora nos dispensou por número insuficiente de vendas, ficamos sem rumo", contou ao Famosidades.

No momento em que tudo parecia dar errado, Carla recebeu o convite para ocupar a vaga de Márcia Freire no Cheiro. O diretor musical da Polygram, Max Pierre, e Cristóvão Rodrigues, importante radialista baiano, gostaram tanto do trabalho da moça que a indicaram para assumir a nova fase do grupo. "Marcamos um almoço e eles oficializaram o convite em agosto de 1995. A partir desse momento comecei a me preparar para cantar na banda Cheiro de Amor", lembrou. O sucesso chamou a atenção dos executivos da Universal, que a convidaram para seguir carreira solo e, ao completar cinco anos de estrada, Carla resolveu deixar a banda. "Muitos fatores favoreceram esse desfecho. Os principais foram o convite tentador da gravadora e um processo que Marcia Freire ganhou contra o Cheiro de Amor", revelou.

Apesar disso, Carla nega que tenha tido algum problema com a ex-vocalista do Cheiro. "Não tinha muita aproximação com ela, mas sempre a respeitei como artista", afirmou. Já com relação aos antigos companheiros de palco, o carinho permanece e sempre entra em contato com alguns dos antigos parceiros. A boa relação com músicos mostra que não ficou nenhuma mágoa por conta de sua saída da banda. Então, por que não há nenhuma menção de sua participação no grupo em seu site oficial? "Isso foi uma falha de digitação que não consegui resolver até hoje. O Cheiro foi muito importante na minha trajetória musical. E acredito que sempre existiu muita admiração entre nós", explicou.
 
O primeiro projeto de Carla em sua carreira solo foi um álbum com músicas de Gilberto Gil. Lançado em 2001, "Só Chamei Porque Te Amo" arrancou elogios da crítica e do ex-Ministro da Cultura. Para compor o repertório a cantora fez uma extensa pesquisa sobre o vasto material do baiano e contou com arranjos de César Camargo Mariano, Lincoln Olivetti, Zeca Baleiro, entre outros. "Foi uma felicidade gravar Gilberto Gil, conhecer melhor a sua obra e ainda fazer as releituras com músicos e arranjadores tão competentes", disse.
 
Um novo trabalho só foi lançado em 2004. Em "Por Todo Canto", ela pode mostrar toda sua versatilidade como artista. Além da liberdade que teve para montar o álbum, Carla renasceu aos buscar forças no projeto para superar a perda de sua mãe, que havia falecido de câncer um ano antes. "É uma doença que mexe profundamente com o doente e a família adoece, sofre e amadurece junto. A perda física da minha mãe me paralisou por um tempo. 'Por Todo Canto' e a turnê internacional de 2004 foi um grande resgate da cantora pós-adolescente que queria melhorar o mundo com a sua canção", desabafou.
O CD rendeu uma turnê pela Europa e pelo Japão e contou ainda com a participação de Guilherme Arantes. "Nos identificamos na luta pela preservação da natureza. O engajamento ambiental nos permitiu realizar um show juntos e então ele me presenteou com a canção 'Por Todo Canto', um amor que pode nos transformar e transformar o mundo", contou. Dois anos depois, Carla se tornou mãe e o nascimento de Sarah fez com que ela repensasse a forma com a qual gerenciava a carreira.
"As viagens diminuíram. Os investimentos são mais cuidadosos e a cobrança pessoal ainda maior. Sempre encarei com responsabilidade ter fãs. Sei que posso influenciá-los positivamente ou não dependendo da maneira que me comporto, das coisas que digo e acredito. Quero um mundo melhor para minha filha", explicou.
Desde 2007, a cantora guarda na gaveta o álbum "Carla Visi e Eu" ainda inédito. "Antes era falta de dinheiro. Nesse momento há uma mudança de foco", disse sobre o lançamento do projeto. Onze anos após deixar o Cheiro, a estrela confessa que deveria ter sido mais esperta ao dar os primeiros passos em sua carreira solo. "Achei que talento e um lindo repertório em uma gravadora multinacional fossem suficientes para fazer a carreira andar. Tudo no mundo da indústria cultural exige planejamento e estratégia", afirmou.

Carla afirmou que não se importa com o rótulo de cantora de axé e revelou que sofreu boicote de pessoas que comandam o circuito de festas e micaretas. "Também sou uma cantora de axé. Me incomoda a pressão oportunista que fizeram com meu nome dentro desse mercado com o objetivo de me tirar do circuito. Amo cantar de tudo e não abro mão dessa liberdade. Usaram isso contra mim. Então, no ambiente axé, sou muito MPB. E no ambiente MPB, sou axé demais", desabafou.
Para a estrela, há espaço para todo mundo na música baiana e o estado será sempre referência na criação musical brasileira. "Há muita gente boa chegando, inovando, balançando as estruturas. Recentemente vimos a Orkestra Rumpillezz arrepiar plateias pelo Brasil. Isso é só o começo. Desse caldeirão muitas vozes, notas, levadas e melodias vão surgir", analisou.
Formada em Jornalismo, ela acalenta o sonho de fazer programas de rádio sobre música ou meio ambiente, mas, neste momento, está com toda sua atenção voltada para o projeto "Encanto Mestiço", com direção musical de Letieres Leite e direção artística de Paulo Atto. "Esse projeto é prioridade. Ele exige muito de mim como mulher mestiça, artista baiana e intérprete da canção brasileira. Fazer o 'Encanto Mestiço' é uma revolução compartilhada. Todos os envolvidos sentem isso. Estou ansiosa por compartilhar esse encanto", contou.
O novo show é uma revista de canções que ela gravou na última década com arranjos inéditos com um ar mais intimista. “Existe essa intenção na tessitura de alguns arranjos, mas, não sei se podemos dizer que o show é totalmente intimista. Às vezes trabalhamos a todo vapor, com a potência máxima dos instrumentos e músicos, então a dinâmica oferece um colorido especial a cada canção”, explicou.
 
Com o coração na música, Carla está curtindo sua solteirice, mas não esconde o desejo de aumentar a família. "Se tiver tempo, oportunidade e encontrar um bom pai, talvez tenha mais filhos", assumiu. Preocupada com a questão ambiental, a cantora se filiou ao Partido Verde e defende a bandeira da ética. "Me identifico com os ideais do PV, mas sei que existem bons e maus políticos em todos os partidos. E que é urgente uma pressão pela ética na política desse país. A corrupção é um veneno que está tirando de nós todas as possibilidades de ser um país decente, organizado, seguro, estruturado, sustentável", afirmou. Sem pretensão de conseguir um cargo público, a moça vai continuar fazendo aquilo que faz de melhor: cantar. Sorte nossa. Que a Bahia proteja o encanto e a magia de Carla Visi.

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