Nos últimos anos, muita coisa mudou no cenário musical: tecnologias,
artistas, gravadoras, divulgação, shows e acesso a todo este material. Os anos
são outros agora, bem diferentes. E esta mudança também reflete a quem tudo
isso é destinado: o Fã. Ou o “Fã-Cliente”.
Antes de
qualquer #mimimi ou picuinha, estou falando de mim
ao mesmo tempo que falo de você (ou de vocês). De nós que somos ‘fã’: Fã de
alguém ou de alguma coisa. Coisa tem fã? Tem sim! Alguém tem fã? Tem
também! Quem tem fã? Bem, vou tentar responder... Segundo a wikipédia, a
monossílaba fã
“é uma pessoa dedicada a expressar sua admiração por uma pessoa famosa,
grupo, ideia, esporte ou mesmo um objeto inanimado (por exemplo, um automóvel ou
um modelo de computador).
Muitas vezes, fãs são organizados em fã-clubes e torcidas.”
Mas,
segundo muitos fãs, existem uma pessoa de ordem superior à Divina, sobre tudo e
todos e toda a sua idolatria é uma religião a ser seguida. E entregam-se a ela,
cegamente.
E sabemos
muito bem que o fanatismo sempre esteve presente em vários ramos da arte,
principalmente na música e na TV. Entretanto, toda esta metamorfose tecnológica
que facilitou o acesso aos meios de produção musical tem produzido também um
público ainda mais exigente, mas não de qualidade artística, e sim de
quantidade, pelo simples fato de hoje poderem “curtir”, “seguir” e
“compartilhar” com o seu ídolo, pelas redes sociais. De poder mostar em alguns
cliques seus vídeos de fotos e de momentos com ele, ela, ou eles. De ser
instantâneo no impulso de falar com eles e de querer o retorno recíproco dos
mesmos. E quando isso não acontece, começa o #mimimi em 140 caracteres.
Já os
próprios ídolos, que também têm à sua mão um dispositivo portátil que lhes
permitem mostrar e dizer o que eles quiserem em tempo real, deixam de lado o
protocolo da “ética profissional” e abusam da super exposição aos seus fãs,
passando a ideia de que eles estão o tempo todo pensando neles quando, na
verdade, querem nutrir seus egos com os comentários melosos e “religiosos”
alimentados por seus seguidores. Seus “milhões” de seguidores. O instagram
passou a ser esta ferramenta preferencial deles.
Os
exemplos que citei nos links acima referem-se a artistas de outros estilos
musicais, justamente para mostrar que fã, além de ter ídolos de vários gêneros,
não é um caso isolado, portanto o fanatismo pode estar presente em qualquer som
vocalizado por um “ídolo”. Digo “ídolo” porque nem todo ídolo é cantor, nem
tudo que ele vocaliza é música. Enfim, próximo parágrafo.
Assim
como dizemos que quem cuida da nossa vida somos nós (desde que paguemos nossas
contas por conta própria), cada artista e fã tem todo o direito de expor os
seus desejos da forma que quiserem, porém, o bom senso deveria
prevalecer, mas infelizmente vai pelo rio abaixo, como na cantiga dos “indiozinhos”, mas neste
caso o jacaré virou o bote que carregava este bom senso, entre os fãs e os
artistas e entre artistas e artistas.
E isto me
rendeu um toque de humor sarcástico quando Claudia
Leitte e Ivete se “encontraram” no The Voice Brasil, que virou notícia por
vários dias...
Ok, para quem
acredita que todo mundo é amigo! Ok, para quem acredita que todos os artistas
são amigos de todos. Mas para quem não acredita, percebe que há muito mais
profissionalismo e política da boa vizinhança em casos como estes do que
amizade propriamente dita. Se não há afinidade entre os seres não há imagem
amigável que faça acreditar que ali não tem espinhos. Porque tem!
Mas como o foco
deste post não é a relação entre os artistas e sim dos fãs, o que sempre me
chama a atenção – independente da polêmica ou da novidade sobre eles – são os
comentários que os fãs (ou que se dizem serem) deixam nos sites de vídeos,
fotos e notícias sobre seus “Divos e Divas”. Criam um cemitério gramatical, com
um péssimo português, uma péssima gíria, um péssimo argumento (argumento????) e
um espírito de ataque ou vingança. Houve um crime ali? Só se foi sobre a língua
portuguesa. E aí a missão “Música é cultura”, destoa no ato. Desde o Orkut
estas rinhas entre fãs se fortalecem: “eu posto o que eu quero, eu ofendo
quem eu quero, como quero e a hora que eu quero. Na rede eu posso tudo”.
Isso tudo me
incomoda, às vezes dá nojo. Porque o desgosto e o sentimento pesado cultivado
nestes comentários deixa de ser sobre o artístico e passa a ser do indivíduo
sobre o outro. Vira briga de torcida de time de futebol. Às vezes até
decepciona ver pessoas que você conhece ou convive portar-se desta forma
também, diferente da pessoa madura que você julgava conhecer. E uns tentam
amenizar o bate-boca nas redes sociais, outros colaboram com a lenha na
fogueira. Dois casos recentes ilustram este tópico:
1.
Internação de
Netinho:
houve mobilização para a montagem de vídeos ao cantor, homenagens criadas pelo
próprio grupo, que se uniu e compartilhou seus materiais para a tal montagem.
Entretanto, uns buscaram sair na frente e fazer seus próprios vídeos, porém
outros o fizeram e cometeram o deslize de não incluir alguns fãs nestes
arquivos, como fora combinado. BUM! Vários calos foram pisados, #mimimi súbito
rolou no grupo, porém houve uma tentativa de justificar esta falha (e que ficou
clara a justificativa), mas sempre tem um que NÃO ENTENDE ou SE FAZ DE
DESENTENDIDO, e continua #CHATIADU
2.
A possível volta de Carla Visi
à Banda Cheiro de Amor: estamos fervendo
de expectativa, o grupo cresce e se mobiliza para uma saudável campanha em prol
do retorno de Carla à Banda. Manchetes dos sites especializados (ou não),
alimentam um clima desagradável entre a atual e a possível sucessora e o
empresário da banda. E os fãs respondem. Mais #mimimi, mais gente #chatiada e
todos querendo defender a sua “Diva”. Uns querem a volta de Márcia Freire,
outros de Carla Visi e outros, CEGAMENTE, não querem nada, pois utilizam a
hashtag #Alinnista, #Alinnismo e ponto final. Para quem acompanha esta trajetória
histórica (sim, isto será histórico no AXÉ), percebe
que ali há três gerações em conflito: de Márcia Freire, Carla Visi e Alinne
Rosa. Três épocas diferentes com três públicos que viveram e vivem momentos de
vida diferentes. E observando estas rinhas, percebe-se que discutir a musicalidade da banda, marcada por
cada cantora, é conflitante com o público mais recente da mesma. A nova geração
economiza opiniões, desmerece questionamentos, ignora conhecimento musical, mas
reproduz frases prontas e sintetizadas pela cantora, que está sempre “presente”
nos cliques do Instagram. O mesmo não acontece com Marcia e Carla, que dosam o
limite entre interagir e compartilhar com o seu público. Compartilhar trabalho,
não ego.
O que esperar
de tudo isso?
Uma pessoa sensata deveria, pelo menos, saber discernir o que é
adoração do que é admiração. A primeira está mais voltada a uma doutrina
religiosa, sobre tudo e todos (muito comum nas novas gerações), porém, a
admiração já engloba um leque de opções do público com o artista, que discute,
analisa, debate, aprecia, degusta aquela arte. E quanto a isso, eu tenho
argumentos para qualquer debate, pois não tomo as “dores” dos outros, se muda o
foco, me mudo da discussão. Simples assim. Ou não... Usar mais o bom humor ao
invés do contrário, acredito que o efeito seria um pouco mais agradável. Mas
não sei o que realmente acontece nestes papos que até os mais maduros (que
poderiam dar o bom exemplo de conduta nestes espaços) acabam mudando de
comportamento e absorvem as dores dos outros... E diante deste perrengue, fica a pergunta: Se isso é ser
fã, sou fã de quem?
Música "Fã", gravada por Ivete Sangalo. Clipe do DVD "Pode Entrar".
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Autor: Celitu
Fonte: Axé dos Tempos
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